sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Capítulo 11

Enquanto a família Dubois almoçava o delicioso ensopado de carne que Selena havia preparado, Alain mostrava os desenhos que havia feito na escola. Blaise degustava a comida, enquanto percebia que Isabelle apenas brincava com o alimento, permanecendo de cabeça baixa:
- O que houve, ma petit? Não está com fome?
A menina se levantou bruscamente da cadeira que a acolhia e correu através do corredor para seu quarto. Blaise largou o garfo sobre o prato e empurrou a cadeira gentilmente, seguindo a filha logo em seguida. Parou na porta e a observou chorar em silêncio, agarrada a uma foto da mãe. A menina apertava os olhos com força, enquanto emitia o som abafado de um pranto lamurioso. O empresário entrou no quarto lentamente, e sentou-se na beirada da cama, forrada com um edredom da Pequena Sereia, personagem favorito de Isabelle de Walt Disney, e tirou o retrato das mãos frias da garotinha:
- Ela é linda, não?- e tornou a depositar o porta-retratos na cômoda ao lado da cama da menina de seis anos- Também sinto falta dela, filha.
Isabelle alcançou os braços do pai e deixou-se manter-se aquecida entre eles, enquanto mais lágrimas escapavam de seus olhinhos escuros. Blaise a abraçou com força, fazendo-a crer que ele sempre estaria lá para ela:
- Está tudo bem, ma petit. Papai está aqui. Jamais te abandonarei.

Blaise terminava de cobrir Isabelle, que finalmente adormecera, agarrada a seu ursinho de pelúcia, ao qual havia batizado de Toby. Beijou-lhe a testa e saiu do aposento, deixando o ambiente iluminado pela agradável penumbra de um abajur de luz azul. Logo depois de encostar a porta do quarto da filha, o homem se dirigiu para o quarto de Alain, preparando-se para entrar no aposento. Parou na porta e pôs as mãos nos bolsos das calças de moletom, ao ver Selena com o garotinho aconchegado em seus braços adormecido, enquanto ela balançava a cadeira de balanço para frente e para trás, entoando uma canção de ninar. Quando tentou se levantar devagar, com medo de acordá-lo, Blaise entrou no quarto pisando no assoalho com cuidado para não fazer barulho e tomou o filho dos braços da madrasta gentilmente, acomodando-o em sua pequena cama. Cobriu-o como fez com Isabelle e deu a ele o elefantinho de pelúcia que mais gostava. Selena observou o quanto ele era atencioso e carinhoso com as crianças, e concluiu finalmente que ele era um excelente pai. Os dois saíram juntos do cômodo e seguiram para a sala de televisão. Após um dia estafante de trabalho, Blaise precisava relaxar. Pôs uma música suave no aparelho de som stéreo e foi até o bar, servindo-se de licor de menta. Ofereceu a Selena, mas ela agradeceu e declinou. Nunca havia tomado tal bebida na vida. Blaise sentou-se no sofá e deu um gole no licor, depositando a taça sobre a mesinha de vidro que jazia em frente ao móvel. Selena aconchegou-se a seu lado, e iniciaram uma conversa amigável:
- Obrigado pelo almoço e pelo jantar, Selena. Mas não precisa fazer isso. Quero apenas que cuide de meus filhos, e está fazendo isso muito bem.
-Quando eu morava na aldeia, eu ajudava mamãe em tudo. Não estou acostumada a ser servida. Tenho que fazer algo além de cuidar das crianças.
Ele a encarou e disse, sem deixar de observá-la:
-Fale-me sobre a aldeia. É uma bela praia. Moram apenas pescadores lá?
-Sim. – ela respondeu, balançando a cabeça afirmativamente. - Meus pais nos trouxeram de Fortaleza para cá, há uns dois anos. Conheceram-se em um luau na praia. – sorriu – Somos pessoas humildes, Blaise. Eu e minha família não conhecemos nada além daquela aldeia. Isso tudo - continuou, apontando para o ambiente luxuoso – é novo para mim. Entretanto, meus pais sempre fizeram questão que eu e meus irmãos estudássemos. Não somos completamente ingênuos a respeito de certos assuntos. Meus pais não tiveram a educação adequada, e não quiseram o mesmo para os filhos. Somos bem instruídos, apesar de sermos pobres. Um homem apareceu na aldeia uma vez oferecendo estudo aos pescadores e aos seus filhos. Era como se fosse um programa do governo. Por causa dele, meus irmãos e eu aprendemos a ler e a escrever bem, e a fazer contas. As escolas públicas que estudávamos estavam sempre em greve, ou faltavam professores. Apesar de tudo isso, Felipe e Bruno preferiram continuar ajudando meu pai na pesca, enquanto eu deveria seguir outro rumo. Papai queria que eu fizesse uma faculdade de medicina ou direito.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Capítulo 10

Ela baixou os olhos, e pensou “Por que ele falaria de mim? Sou apenas um contrato, o pagamento de uma dívida. A falsa noivinha que preencherá todas as expectativas dele perante a sociedade.” Ouviu-o chamar seu nome, enquanto se aproximava com Alain em um dos braços e guiava Isabelle com a outra mão:
- Selena, esses são meus filhos. – virou-se para a cunhada – gostaria que prestasse mais atenção em meus filhos. São muito pequenos para ficarem sozinhos na beira da água enquanto você lê uma revista.
A moça sorriu, diante de tão adoráveis criaturas. Aquelas crianças, Selena sabia, faziam com que Blaise se tornasse uma pessoa melhor. Nem ao menos percebeu o que Priscila havia dito, pois ajoelhou-se e acariciou o rosto das crianças.

O casamento de Selena e Blaise foi realizado apenas no civil. Não houve lua-de-mel, e logo se mudaram para um luxuoso apartamento perto da empresa de Blaise e Pierre. O prédio realmente era muito elegante, um lugar totalmente diferente do que Selena já tinha visto. Os móveis eram extremamente luxuosos, e os três quartos eram suítes. Isabelle e Alain, cada um tinha seu próprio quarto, decorado da maneira que mais lhes agradava. Ao saber que teria que dormir no mesmo quarto que Blaise, ela se apavorou. Entretanto, o que poderia fazer? Agora eram marido e mulher. Mas ele manteve a promessa de não tocá-la. Não sabia se tal fato a deixara deprimida ou contente. Afinal, não era isso mesmo que queria, que ele não a tocasse? Apesar de tudo, estava com medo das próprias reações, ao saber que dividiria a cama com o homem que agora era seu marido. Estava com medo, e ao mesmo tempo estava com a libido em turbilhão. Ela soube disso na manhã seguinte à primeira noite no novo apartamento.
Blaise se levantou às sete horas da manhã, e caminhou até o banheiro, despindo-se e abrindo o chuveiro em seguida. Selena deu um profundo suspiro e espreguiçou-se, abrindo os olhos bem devagar. Blaise mantivera a promessa de não tentar nada que a fizesse se sentir desconfortável. Até aquela manhã. Ela se ergueu da cama e esticou os braços, bocejando. Sua primeira tarefa seria despertar as crianças e ajudá-las a se aprontarem para a escola. Caminhou em direção ao banheiro, disposta a ajeitar-se também, e abriu a porta. O cômodo estava envolto por uma fumaça que aquecia o ambiente, e Selena cobriu o corpo protegido por um pijama parando no mesmo instante, observando o homem dentro do box. Blaise estava de olhos fechados, enxaguando os cabelos negros, enquanto a espuma se espalhava por suas costas. A moça observou o corpo másculo, no momento em que ele fechava o chuveiro e sacudia a cabeça, espalhando a água pelo cubículo embaçado pela fumaça que emanava do banho quente. Foi então que seus olhos se encontraram. Embaraçada por ser pega em flagrante examinando-o tão intensamente, ela desviou o olhar dele, no momento em que ouviu o box sendo aberto. Percebeu um sorriso em seus lábios sensuais e disse, num fio de voz:
- Me desculpe, eu...
Mas não pôde completar a frase. Blaise caminhou rapidamente até ela e a puxou pelo pulso, beijando com urgência e fúria. Selena tentou se livrar do abraço, debatendo-se, mas ele era bem maior e bem mais forte, de modo que não conseguiu se mover. Braços de ferro a envolveram e um beijo intenso fez com que sentisse que a terra parava de girar. Blaise a conduziu até o quarto e a depositou gentilmente na cama, explorando seu corpo com carinho e de maneira sedutora. Aos poucos, a moça foi retribuindo as carícias, até que o casal foi bruscamente interrompido pelo toque insistente do telefone. Blaise olhou para o aparelho furioso, e se afastou de Selena, enrolando a toalha na cintura e alcançando o telefone sem-fio. Ela tocou as faces, sentindo-as ruborizar.
Naquela tarde, Selena foi ao supermercado, comprar mantimentos para o almoço, com o dinheiro que o marido tinha dado para ela. As crianças estariam chegando da escola daqui a algumas horas, e não sabia se Blaise também ia comer em casa. Ele insistiu que deveriam contratar uma empregada, mas Selena se recusou veementemente. Nunca foi servida, jamais gostou que fizessem as coisas para ela. Ao chegar ao prédio onde agora morava, o porteiro havia lhe informado que uma mulher tinha perguntando por seu marido, e que havia se identificado como Priscila Dubois.

Capítulo 9

Selena guardava algumas roupas em sua mochila jeans surrada, preparando-se para pegar a estrada com Blaise. Da aldeia de pescadores até o Rio de Janeiro eram apenas trinta minutos de viagem. Ele conversava com os Soares, no momento em que Selena entrou na sala, carregando a mochila nas costas. Ele parou para observá-la. Vestia uma blusa amarela, que contrastava com a pele morena, e usava um short jeans. Os sedosos cabelos negros estavam presos em um rabo de cavalo, no alto da cabeça. Eles se despediram de todos e caminharam até o carro de Blaise. Ele tomou a mochila das mãos dela e a colocou no banco de trás do Kia, enquanto Selena entrava no automóvel. Tentou abaixar o banco, mas não conseguia encontrar a alavanca. Além do mais, jamais havia andado em um carro como esse. Blaise pôs os óculos escuros e tomou o assento do motorista, dizendo, no momento em que deu a partida:
- Mudança de planos. Vamos à Búzios buscar meus filhos. Eles estão com minha cunhada. É uma viagem de quase duas horas, você pode tentar cochilar um pouco.
Selena tentava em vão abaixar o banco do carona. Percebendo a dificuldade da moça, Blaise soltou o cinto de segurança e curvou-se sobre ela, alcançando a alavanca. Lentamente, o banco começou descer. Aquela proximidade a deixou extremamente perturbada, e quando o carro começou a se movimentar, ela virou para o lado e ficou observando a estrada asfaltada, que brilhava em contraste com os raios de sol. Viu a aldeia se afastando de sua visão aos poucos e em alguns minutos, sentiu o corpo pesado e as pálpebras começaram a se fechar.
Após uma hora e quarenta minutos, Blaise começava a diminuir a velocidade do automóvel prateado. Parou finalmente diante de uma casa de praia em estilo rústico e desligou a chave. Virou-se para a moça ao seu lado e contemplou-a adormecida. Acompanhou com os olhos sua respiração tranqüila e esticou a mão, tocando-a de leve:
- Selena? Já chegamos.
A moça se mexeu e começou a abrir os olhos lentamente. Encontrava-se diante de uma casa de madeira, tipo um chalé. De frente para ela, via-se a água cristalina de uma praia particular. O lugar era absolutamente fabuloso. O casal saltou do carro e caminhou em direçao à casa. Selena contemplava o lugar, encantada. Ela nem se importou quando Blaise segurou-a pela mão e a conduziu para a propriedade tipicamente rústica. O homem tirou a chave do bolso e abriu a porta, empurrando-a. Os móveis que Selena viu, condiziam com a delicadeza da casa, sendo a maioria feita de madeira, trabalhada à mão:
- Venha, vamos até os fundos. Tem uma vista linda para a praia de lá.
O dia estava ensolarado, e os raios de sol refletiam no mar cristalino. A praia da aldeia dos pescadores era completamente diferente daquele lugar, que parecia um paraíso. Uma mulher de cabelos curtos e óculos escuros lia uma revista de moda deitada em uma esteira de praia, e nem percebeu o casal se aproximar. Blaise a chamou, e ela ergueu os olhos da revista e sorriu. Abaixou os óculos ao perceber Selena ao lado do homem, e lhe lançou um olhar de desdém. Largou a revista de lado e se levantou as esteira. Selena nunca tinha visto uma mulher tão bonita. Priscila era elegante e sofisticada, percebeu isso no momento em que a viu. Sentiu-se embaraçada diante do exame da mulher, entretanto, estar ao lado de Blaise fazia com que se sentisse protegida, e era algo que ela não experimentava desde que Alessandro... Fechou os olhos com força, espantando as más lembranças. Blaise soltou a mão da moça e caminhou até a beira da água, aonde duas crianças brincavam com areia. Priscila pôs os óculos escuros no alto da cabeça e cruzou os braços, enquanto falava com Selena:
-Desculpe-me, como se chama mesmo?
A moça a encarou, meio tímida. Por que sentia-se intimidada perante o olhar de Priscila?
- Meu nome é Selena.
- Engraçado Blaise não ter me falado de você.

domingo, 24 de julho de 2011

Capítulo 8

Blaise balançou a cabeça, negativamente:
- Você não está sendo rude.
A moça respirou fundo e continuou:
- Eu lhe devo uma resposta, sei que é para isso que está aqui. Não sei se minha família sabe o que está acontecendo, no entanto, o que eu fizer, será por eles. Eu aceito me casar com você. Mas gostaria que respeitasse algumas regras, algumas condições. Pode fazer isso?
- Depende das condições, Selena. Antes de qualquer coisa, quero que saiba que quero me casar com você apenas para que cuide de meus filhos.
Selena ficou pasma diante da revelação. Blaise tinha filhos? E quer casar com ela para que sirva de governanta para as crianças, ou algo assim?
- Você me quer como babá para seus filhos? Foi isso mesmo o que eu ouvi?
- Você está enganada, Selena. Minha esposa faleceu há dois anos, e eu preciso de uma figura materna para meus dois filhos. Alain tem três anos, é um garoto muito saudável e esperto. Entretanto, minha filha Isabelle não anda muito bem. Ela deixou de falar desde que Camille morreu. Já tentei todos os tipos de tratamento, mas ela não diz nada. Outra coisa, eu sou um homem bastante ocupado, estou sempre em contato direto com a mídia, e sempre presente em eventos socais. Estou cansado de fazerem especulações a respeito da minha vida amorosa, e acho que se eu me casasse, a solução seria perfeita. Mas me diga, quais são suas condições?
A cabeça da jovem girava diante de tantas revelações, contudo, continuou a falar:
- Então é para isso que quer se casar comigo. Por que eu? Tenho certeza que existem mulheres de sua classe social que aceitariam sua proposta de bom grado.
- As mulheres do meu mundo, como você diz, são interesseiras, e só querem saber de luxos. Jamais se preocupariam com meus filhos, somente com a posição social e com o meu dinheiro. Mas sei que você não é assim. De algum jeito, posso ver dentro da sua alma que é a pessoa certa para me ajudar com as crianças.
Então Blaise podia ver dentro de sua alma. Será que podia ver, como ela o achava atraente, e como se sentia estranhamente excitada perto dele? Era uma mistura de medo e prazer, pôde concluir. Ela sabia que não podia se entregar a ele. Lembrou-se então das regras:
- Eu compreendo. Mas para levar adiante esse acordo, preciso que me prometa uma coisa: prometa que não vai me tocar, de maneira alguma. Não quero que me beije, e nada de relações sexuais. É o mínimo que eu peço. Tenho certeza de que encontrará diversão em outro lugar. – ela havia mesmo dito aquilo, quando há pouco tempo admitiu sentir-se atraída pelo homem à sua frente? Apesar disso, as marcas e o trauma que levava em sua alma eram maiores do que o desejo que sentia por Blaise. Era grata por ele não poder ver essa parte do espírito dela. Ouviu-o dizer, em um tom de voz meio frio e decepcionado:
- Não se preocupe. Será apenas um casamento de aparências.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Capítulo 7

- Eu não vou tirar os bens de vocês, mas eu preciso ser pago de alguma maneira. Se você casar comigo, eu esquecerei essa dívida.
Selena não podia acreditar no que ouvia. Ele queria casar com ela, a queria como esposa, como pagamento de uma dívida? Que tipo de pessoa era essa? Era grata por ter auxiliado sua mãe, mas isso já era demais! Não podia envolver-se com outro homem, não podia... E muito menos servir de pagamento para uma aposta. Não podia aceitar.
- Sinto muito, mas não posso aceitar ser o pagamento de uma aposta. Sou um ser humano, e não um objeto.
- Não veja dessa maneira, Selena.
-E como quer que eu veja? Se eu não me casar com você, tira as posses da minha família, e nos deixa na rua. Isso é nojento.
- Eu exijo ser pago de alguma forma, Selena. A escolha é sua. Como citei acima, eu não sou um monstro. Apenas quero o que me pertence. Senão, as promissórias que seu pai assinou irão direto para um advogado. É isso que quer? – Não havia mal nenhum em assustar a jovem, para atingir seu objetivo.
- Eu não pertenço a você.
- Não quis dizer isso. Está entendendo?
Ela era apenas a humilde filha de um pescador, que terminou os estudos com muita luta em escolas públicas. Como poderia falar sobre assuntos que não entendia?
- Você tem até amanhã para me dar uma resposta. – continuou Blaise, dirigindo-se para a porta. – Estimo minhas melhoras à sua mãe. – e saiu.
Selena tornou a sentar- se na poltrona, ainda pasma e confusa com as palavras de Blaise. Mas uma coisa conseguia compreender: ou se casava com ele, ou a família perdia seu sustento e suas posses.
A noite foi extremamente longa para a moça, que não sabia qual atitude tomar. Estava a par de que seu pai já sabia da proposta que o homem lhe fez, mas sabia que Felipe ia ficar furioso. Mal eram sete horas da manhã, quando Selena ouviu vozes que vinham da sala. Ela se levantou e se arrumou, pronta para preparar o café da manhã. Assim que entrou na cozinha, viu Madalena preparando o desjejum, enquanto conversava animadamente com Blaise. Não havia dúvidas de que se sentia muito melhor, e Selena devia isso tudo ao homem que estava sentado à mesa, tomando café com a família Soares. Ela se aproximou e cruzou os braços, gesto que considerava auto-defensivo, e franziu a testa. Todos conversavam como velhos amigos. Até mesmo Felipe estava animado com a conversa. A moça viu os dois irmãos beijarem, cada um deles um lado da face da mãe e saírem para mais um dia de trabalho, sendo seguidos por Vicente. Blaise se levantou da cadeira e se ofereceu para lavar os pratos, mas Madalena se negou. Selena não pôde deixar de imaginar, o que Blaise havia feito para seus parentes se comportarem daquela maneira descontraída. Talvez tenha sido o fato de ele ter assistido a mãe quando precisou, ou o fato de que ter dinheiro, não significava que a pessoa deveria possuir menos humildade. Blaise Dubois foi a única pessoa com dinheiro que conhecera, que aparentava tratar as pessoas menos desprovidas de capital como se fossem da mesma posição social.
O olhar de Selena encontrou os do empresário, e ele se aproximou, cumprimentando-a:
- Bom dia. Desculpe-me vir tão cedo, mas resolvi ver como estava sua mãe. Já estou a caminho do trabalho.
Ela virou as costas e seguiu direto para a sala, depois de pronunciar algumas rápidas palavras com Madalena, que permaneceu na cozinha. Quando os dois estavam acomodados no sofá da sala, Selena começou a falar:
- Eu não tive uma noite muito boa, portanto, me desculpe se estou sendo rude.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Capítulo 6

Felizmente, Madalena foi liberada no dia seguinte, e instruída pelo médico a tomar remédios que combateriam sua hipertensão por um determinado tempo, até sair o resultado do M.A.P.A. Seus exames, aparentemente, não mostraram complicações, e ela voltou para casa logo de manhã. Selena ajudou-a a acomodar-se na cama e deu-lhe um beijo na testa. Os medicamentos ainda estavam em seu organismo, fazendo com que se sentisse bastante sonolenta. A moça saiu do quarto lentamente e fechou a porta bem devagar. Atravessou o corredor e entrou na sala. Para o alívio de todos, Felipe estava pescando e Bruno tinha ido com ele. Apenas Vicente e Blaise se encontravam no aposento. Apesar do que aconteceu com sua mãe, seu pai ainda devia as posses da família àquele homem. Os dois estavam discutindo a respeito da melhor maneira de resolver o problema. Vicente virou o rosto e encarou a filha, assim que ela entrou na sala. Ele se levantou e disse:
- Venha conversar com Blaise, filha. Vou ver como está sua mãe.
Selena encarou o pai, com expressão confusa. O que ela poderia conversar com aquele homem? Seus mundos eram completamente diferentes. Era extremamente grata pelo que fizera por Madalena, mas não podia esquecer a situação em que estava colocando toda aquela família. E por qual motivo, se era tão bem de vida? Apesar de tudo, no fundo de seu coração, sabia que a culpa havia sido de Vicente. Mas o que seria deles, se perdessem tudo que possuíam? Acomodou-se em uma poltrona de frente para o convidado, e juntou as mãos em cima do colo:
- Gostaria de algo? Quer que prepare um café?
- Não se incomode, Selena. – disse ele, erguendo-se do sofá que o acolhia.
- Então, o que quer? Existe algo que eu possa fazer pelo senhor?
Ele caminhou em direção a ela e abaixou, sentando-se na pequena mesinha de madeira que jazia no meio da sala, ficando de frente para a moça. Blaise trajava uma calça jeans e uma camisa vermelha. Totalmente diferente do homem que fora convidado para jantar na casa dos Soares na noite passada. Ele havia raspado totalmente a barba, o que lhe deu uma aparência mais jovem e mais sedutora. Agora Selena pôde ver seu rosto másculo de perto, e o bronzeado que sua pele exalava. Aquele homem era mais bonito do que podia imaginar:
- Quero que se case comigo. – ela ouviu-o dizer, sem rodeios.
Por um momento, ela achou que estava ficando louca. Não havia escutado direito, só podia ser. Como assim, Blaise queria casar-se com ela?
- Eu não entendi.
- Quero que se case comigo. – o homem repetiu.
Selena ergueu-se do sofá num sobressalto e o encarou:
- Mas mal nos conhecemos, como quer que eu...
- Me ouça primeiro, Selena, por favor. – Blaise continuou, levantando-se e aproximando-se dela. O homem era muito mais alto que a moça, e estavam agora frente a frente:
- Não quero que pense que sou um monstro, ou um chantagista qualquer que quer prejudicar vocês. Eu não sou nada disso. Mas você conhece as regras do jogo, seu pai me deve algo, e eu não pretendo deixar essa dívida passar. Está compreendendo?
Ela começava a compreender. Permitiu que ele terminasse de falar tudo que pretendia, e então poderia expor sua opinião e a resposta para seu pedido. Se ele não era um chantagista, a aceitaria de bom grado, e os deixaria em paz para sempre.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Capítulo 5

Selena balançou a cabeça afirmativamente. Todo o estresse causado na família era por causa de Felipe. Agora, com essa atitude de Vicente, a situação ficaria ainda pior:
- Meu irmão é muito encrenqueiro, vive envolvido em problemas. Felipe é agressivo demais, e todos na aldeia o suportam somente por causa de papai e de mamãe. Mas ela ficou muito pior, quando Joana, sua noiva, o acusou de agredi-la fisicamente. Afinal, não foi essa a educação que eles deram para o meu irmão. Ela o abandonou, dois dias antes do casamento. Aquilo deixou mamãe muito deprimida.
- Compreendo. Mas existem tratamentos especializados para esse tipo de problema, que seu irmão enfrenta. Deve ser muito difícil para vocês, quando ele perde a calma.
A moça sorriu:
- Somos apenas uma humilde família de pescadores. Como podemos oferecer esses tipos de tratamento para Felipe?
Blaise percebeu então que estava entre uma família, completamente diferente das famílias que existiam em seu mundo. Entretanto, sabe que não foi sempre assim em sua própria família. Lutou muito com o irmão, para chegar onde estava agora, logo após a morte dos pais. Blaise e Pierre vieram da França com 16 e 18 anos respectivamente, para morar com alguns amigos de seu pai, donos de uma loja de materiais de construção. Apesar de serem considerados brasileiros, os dois irmãos ainda possuíam vestígios do sotaque de sua terra natal. Afastou as lembranças, ao avistar Pierre entrando na clínica. Pediu licença à Selena e se aproximou do irmão, que já foi logo perguntando:
- O que aconteceu, Blaise?
O homem contou detalhadamente os acontecimentos desta noite e da noite anterior. O que ele não comentou é que estava disposto a abrir mão de receber o pagamento da aposta, apenas sob um único pretexto: o de que Selena se case com ele.